culturas negras no mundo atlântico



sound system em salvador; luta de arena em dakar; performances no harlem, ny; carnaval em londres; cafés literários na martinica; emancipation celebration em trinidad; salões de beleza afro em paris; artes visuais em luanda; festival de vodum em uidá. a terceira diáspora é o deslocamento virtual de signos - discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, ícones - provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra. potencializado pela globalização eletrônica e pela web, coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas. uma primeira diáspora acontece com os deslocamentos do tráfico de africanos; uma segunda diáspora se dá pela via dos deslocamentos voluntários, com a migração e o vai-e-vem em massa de povos negros. diásporas_estéticas em movimento.
livros completos para download

livro 1


livro 2

quem sou eu

Minha foto
antropóloga, viajante e fotógrafa amadora, registro cenas do cotidiano em cidades negras das américas do norte e do sul, caribe, europa, áfrica e brasil, sobre as quais pesquiso, escrevo e realizo mostras audiovisuais. meu porto principal é salvador da bahia onde moro. Goli edits the blog www.terceiradiaspora.blogspot.com from Bahia Salvador, is a traveller and amateur photographer who recorded scenes of daily life in the atlantic cities about which she writes and directs audiovisual shows. She has a post-doctorate in urban anthropology and is the author of the book "The Plot of the Drums - african-pop music from Salvador" and "Third Diaspora - black cultures in the atlantic world".

domingo, 5 de dezembro de 2010

bienal do recôncavo


instalação de ibrain miranda; aplicação sobre tecido; havana; sem título; sem data

sábado, 4 de dezembro de 2010

em cachoeira

moças curiosas

claudio manoel, o articulador

israel, o convidado

domingo, 28 de novembro de 2010

3ª diáspora



ilustraçaõ de valentina garcia a partir de peça de arte popular do benin

1ª e 2ª diásporas




ilustrações de valentina garcia a partir de objetos de arte popular beninense

domingo, 21 de novembro de 2010

terceira diaspora e gog em brasilia

ohla essa mesa!

jacira silva estava lá
privilégio danado ter gog no lançamento dos livros em brasília, massa real!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

lançamento em salvador


goli e rita batista


joselito crispim, valentina garcia , a designer e eu


entre as editoras arlete soares e rina angulo
fotos eduardo tavares

rita batista entrevista

http://www.youtube.com/watch?v=jJOAaE3cGus&feature=youtube_gdata_player

domingo, 7 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

grafitando em luanda




trabalho do grafiteiro ac na trienal de luanda, 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

jornal de angola comenta lançamento dos livros sobre a terceira diáspora

http://jornaldeangola.sapo.ao/17/0/goli_guerreiro_apresenta_livros_de_emigracoes_da_cultura_negra

carrinho multimídia e ana dumas convidam luandenses para lançamento dos livros durante a segunda trienal de luanda

o livro foi apresentado em luanda no cine teatro nacional com conferência, imagens e a presença de artistas baianos convidados da trienal

autógrafos emocionados em luanda; músicos, escritoras, jornalistas, crianças, curadores e artistas da trienal estavam lá


terça-feira, 19 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

sheila, panafricana

sheila walker

“Este conceito foi criado na diáspora. Acho que somos todos pan-africanos no nosso dia a
dia. O candomblé ortodoxo tem orixás de várias nações que se encontram nas Américas. Acho que essa sinergia africana é o pan-africanismo do século XXI. A União Africana fala de fazer de nós a sexta região (da África), mas acho que já somos. Somos quase 200 milhões. Se falamos do andu que é uma palavra kikongo, podemos fazer um mapa da herança africana, pois está no Brasil, Porto Rico, República Dominicana, Equador. Esta é uma maneira de conhecer e explorar as nossas africanidades e acho útil que os africanos também consigam perceber a projeção da sua cultura” [Sheila Walker].

sábado, 18 de setembro de 2010

rumpilezz

“Criada por Letieres Leite (em 2006), a Orkestra Rumpilezz é um grupo de sopro e percussão, onde tanto as composições como os arranjos são concebidos a partir das claves e desenhos rítmicos do universo percussivo baiano. A orquestra é formada por cinco músicos de percussão (atabaques, surdos, timbaus, caixa, agogô, pandeiro, caxixi,) e 14 músicos de sopro (quatro trompetes, quatro trombones, dois saxes alto, dois saxes tenor, um sax barítono e uma tuba]. As composições são inspiradas desde os toques dos Orixás do culto do Candomblé, como também de grandes agremiações percussivas como: Ilê Aiyê, Olodum, Sambas do Recôncavo, dentre outras referências rítmicas” [www.myspace.com/letieresleiteamporkestrarumpilezz].

Letieres Leite. Compositor, arranjador, sax tenor, soprano, flautista e maestro.

Rum, Pi, Lé. “A orquestra dos candomblés se compõe de três instrumentos principais – o atabaque (ilu), o agogô e a cabaça. Há três espécies de atabaque: o grande [rum], o médio (rumpí) e o pequeno (lé). Os atabaques são considerados essenciais para a invocação dos deuses” [Edison Carneiro].

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

pintando mitos


telas afro-reggae de edilson barreto. salvador, 2010.


"As telas afro-reggae surgiram da observação do dia a dia dos afro-descendentes. Eu resolvi pintar as telas com este tema. Para passar para o povo afro-descendente a força da auto-estima e a nossa ancestralidade cultural" [Edilson Barreto].

segunda-feira, 14 de junho de 2010

pintando utopias

Gallo del Caribe. Óleo e carvão sobre tela. Wifredo Lam, 1954. Coleção Museo Nacional de Bellas Artes de Cuba.

Lam realmente descoloniza a visão da vanguarda ocidental e por esse caminho assoma um mundo cultural novo. Sua pintura foi, como ele mesmo desejava, um verdadeiro cavalo de Tróia no meio da cultura do Ocidente, que coloca em circulação os até então desconhecidos complexos culturais de nosso continente e, por extensão, de todas as culturas subalternas [Corina Matamouros].

terça-feira, 1 de junho de 2010

vanguarda em nova york


Capa da revista Survey Graphic (1925) dedicada à literatura produzida no Harlem, que se tornou uma espécie de manifesto do movimento


“Não existe um problema negro nos EUA, o que existe é um problema branco” [Richard Wright]
Harlem renaissance é um dos períodos mais ricos da cultura norte-americana. Foi um movimento de intenso ativismo intelectual e artístico que o Harlem produziu entre 1919 e 1929, a partir da migração interna e externa em direção a Nova York. O movimento foi deflagrado pela literatura que reuniu escritores como Alain Locke (The new negro), Langston Hughes (The weary blues), Countee Cullen (Color), Claude McKay (Home to Harlem), Dorothy West (The wedding), Richard Wright (Black boy), Zora Neale Hurston (How it feels to be colered me). A partir de uma literatura em diversos gêneros como ensaio, poesia, ficção e teatro, o Harlem renaissance antes chamado The new negro mouvement, produz “uma vanguarda que coloca em questão hierarquias sociais e raciais, inventa outros elos, repensa uma herança e funda outra modernidade” [Riveneuve éditions].

sábado, 29 de maio de 2010

carnaval de luanda

Espaço oficial do carnaval de Luanda conhecido como Marginal de Luanda, 2007. Foto Silvana Rezende

"Na avenida Marginal acontece o carnaval com a participação das Associações que normalmente abordam temas políticos e sociais, confeccionam roupas e fazem a música do ano, com direito a lançamento de CD. Divididos em alas femininas e masculinas fazem coreografias que lembram uma quadrilha, e há uma ala com pessoas caracterizados de médico ou enfermeiro, professor e ainda alas com comidas que representam as colheitas e o homem do campo. O carnaval feito pelas Associações ainda lembra a fase socialista do país, ou até o chamado ‘Carnaval da vitória’, o primeiro carnaval após a independência, onde o Agostinho Neto disse: ‘Não vamos mais fazer os carnaval dos Tugas (portugueses) dentro dos clubes, vamos ocupar nossas ruas’. Depois que as associações passam na avenida principal, para avaliação do júri, a organização do carnaval abre para os foliões com camisetas com o nome do patrocinador do carnaval, eles dançam, cantam e passam batendo palmas, mas não competem. E depois é a vez das pessoas que se fantasiam livremente, se pintam de preto, usam máscaras, pintam os rostos com purpurina ou usam perucas improvisadas. A TV transmite ao vivo " [Silvana Rezende]

Silvana Rezende. Videasta, morou em Luanda entre fevereiro de 2006 a abril de 2007 em um bairro chamado Maianga.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

porto novo

Diante da Mesquita de Porto Novo, construída por negros retornados do Brasil para o Benin (no século 19), a mulçumana guarda seu recato em estilo espetacular.

domingo, 16 de maio de 2010

cidade do cabo



Na luxuosa cidade turística da qual se avista a Robben Island (onde Mandela viveu 18 dos 27 anos em que permaneceu preso) o cotidiano é um enigma. Hostilidade e gentileza encobrem outras diferenças.

terça-feira, 11 de maio de 2010

o sacerdote


mestre didi

"Após qualificar o mestre Didi como um artista baiano de qualidade internacional e destacar o seu papel enquanto sacerdote, Sheila Walker identifica-o na qualidade de que ela mesma chama de ‘historiador cultural’, entendo, pelo vínculo à tradição Nagô, a sua preocupação com entendê-la e divulgá-la convenientemente. A autora nos revela que o Mestre Didi teve contato com a produção de esculturas desde a adolescência, com motivos ligados ao candomblé, ao simbolismo dos Òrìsà, demonstrando nestes objetos, a força mística da natureza. Quanto ao material empregado em suas obras, ela estabelece uma mudança quanto ao mesmo, afirmando que o mestre realizou trabalhos em madeira, cimento e pedra; porém, ultimamente, ele usa metais mais leves, fibra de coqueiro , couro, contas e conchas” (Jaime Sodré, A influência da religião afro-brasileira na obra escultórica do Mestre Didi. Salvador, Edufba, 2006, p. 200).

quarta-feira, 21 de abril de 2010

sankofa

Sankofa é o ganês Justine Lloyd Ankai-Mac Aidoo e traz em seus nomes a marca da tribo real da qual descende. Além de inglês e português (que ainda está aprendendo a dominar) ele fala fanti uma das línguas faladas pelos povos acã que congrega cerca de 50 etnias, como Ashanti, Takwa, Nzima e Fanti, entre outras. Ele veio ao Brasil a trabalho em 2001 e decidiu ficar atuando como cabelereiro em São Paulo. A primeira escala durou um ano. Conheceu Salvador e instalou no Pelourinho o Sankofa - African Bar. Atua como dj e gosta de tocar semba, highlife, jujumusic, reggae e afrobeat.

“A primeira vez que eu toquei em um reveillon aqui em Salvador jogaram uma lata de cerveja em mim. Eu parei o equipamento, parei o som e falei! Por favor eu sou Sankofa e sou africano de Gana e ‘tou aqui como dj africano com músicas africanas, por favor... me contrataram por causa do estilo de música que eu toco, por isso estou aqui. Então desculpa, se não conhece escuta, quem já conhece vamos curtir” (Sankofa conversa com a autora, 27 de outubro de 2008).

terça-feira, 20 de abril de 2010

a paisagem é um muro

“Eu vou falar francamente, então isso não vai levar muito tempo. A despeito do que dizem, grafite não é a forma de arte mais baixa. Embora uma pessoa talvez tenha de escalar por aí à noite e mentir para a mãe, esta é, atualmente, uma das mais honestas formas de arte disponíveis. Não há elitismo ou exagero, esta arte expõe, nos melhores muros, o que uma cidade tem para oferecer e ninguém é deixado de fora pelo preço da entrada. Um muro tem sempre sido o melhor lugar para publicar seu trabalho. As pessoas que governam nossas cidades não entendem grafite porque eles pensam que nada possui o direito de existir a menos que dê lucro, o que faz a opinião deles sem valor" (Robert Banksy. Banksy – wall and piece. London: Century, 2005, p. 8).

quarta-feira, 24 de março de 2010

dubstep

kode9

“O DJ inglês Kode9 lançou um álbum que serve de boa trilha sonora para o tempo presente. Batizado de “Memories of the Future”[2006], ele retrata o estágio atual do dubstep, estilo de música eletrônica surgido nas periferias de Londres há alguns anos. Com batidas muito lentas e graves marcantes, o dubstep vem crescendo globalmente sem alarde. E com ele, a perplexidade sobre como se dança o novo estilo, já que à primeira audição isso parece impossível. Curiosamente, o dubstep não desafia apenas as formas urbanas de dançar. Disseminado primordialmente através de rádios piratas e da circulação dos chamados mixtapes (cd´s caseiros distribuídos pelos próprios dj´s), o estilo faz repensar a idéia de “periferia”, já que nesse caso estamos falando da periferia de Londres. A palavra-chave para isso é a tecnologia digital” (Ronaldo Lemos. Centros, Periferias e a Propriedade Intelectual(RJ)· 31/5/2008. www.overmundo.com.br/Texto publicado originalmente no catálogo do evento Memória do Futuro, do Instituto Itaú Cultural).

quarta-feira, 3 de março de 2010

pai burukô


pai burukô no pelourinho, carnaval 2010. foto: carlos alcântara/secult

“Aproximava-se o Carnaval de 1942, os garotos [Didi, Clodoaldo, Minininho, Hugo e Aurinho] muito alegres, animados e animando os outros que lhe rodeavam, conseguiram juntar 30 sócios, organizando a brincadeira (...) . Domingo, dia do Carnaval, quando acordaram foram ao riacho, junto à lagoa da Vovó [em São Gonçalo do Retiro], tomaram um rico banho e na volta fizeram uma fritadinha de carne de sertão com ovos e bastante cebolas e comeram acompanhada de um aperitivozinho pra alegrar a brincadeira. (...) Assim o Afoxé Pai Burukô passou a ser uma pândega, em que a maior parte de seus sócios, participantes da Religião Tradicional Africana Nagô, se organizou para se distrair e alegrar o povo de modo geral, sem nenhuma finalidade religiosa” (Mestre Didi. Autos coreográficos: Mestre Didi, 90 anos. Salvador, corrupio, 2007, p. 35-6).

“Afoxé [nagô; advinhação, profecia]: é um bloco carnavalesco, uma ‘brincadeira’ de forma, conteúdo e comportamento específicos, não só porque seus membros-foliões estão vinculados a um terreiro, unidos por uma religião, pelo uso de uma língua, dança, ritmo e códigos de origem nagô, senão por terem, fundamentalmente, consciência de grupo, comunidade de valores e hábitos que os distingue de qualquer outro tipo de bloco ou cordão. O que mais caracteriza o afoxé é a sua figura central, o babalawô, pai conhecedor dos mistérios, do futuro, dos destinos, iniciado dos mistérios do jogo oracular, acompanhado de seus ‘ajudantes’, em torno dos quais se desenvolve toda a atividade lúdica do grupo” (Juana Elbein dos Santos. Autos coreográficos: Mestre Didi, 90 anos. Salvador, corrupio, 2007, p. 42).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

carnaval


banca de bebida no circuito barra-ondina, salvador 2010
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para jorge amado

“Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na gênese da literatura dos países africanos que falam português. (...)

Neste breve depoimento, eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: por que este absoluto fascínio por Jorge Amado, por que esta adesão imediata e duradoura?É sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto do baiano. (...)

Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Bahia e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida cotidiana.

O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: ‘Para mim, a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e via a minha terra. E quando encontrei Quincas Berro d’Água eu o via na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe’.”

Essa familiaridade existencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passeavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos.(...)” (Mia couto. “...e fazer do nosso sonho uma casa” In: O Estado de São Paulo, 5 abril 2008).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

abdias e as cotas

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2007.

Sua Excelência, nosso querido Presidente Lula,

Saudações quilombistas no Dia Nacional da Consciência Negra.

Tenho recebido das mãos de Vossa Excelência honrarias que muito me orgulham, e que recebo em nome do povo afrodescendente deste País, pois entendo que os méritos a ele pertencem. Por isso não poderia deixar de me manifestar no dia de hoje ao povo negro, a todo o povo brasileiro, e a nossos governantes, na pessoa de Vossa Excelência, pois a felicidade do negro, como disse o poeta, é uma felicidade guerreira.

Ao tempo que muito me alegram e me honram a outorga da Grã Cruz da Ordem do Mérito Cultural, e a minha inclusão na mais alta classe da Ordem do Rio Branco, observo que as desigualdades raciais no Brasil continuam agudas e profundas. Diariamente recebo notícias de pesquisas quantitativas que confirmam este fato. Só no dia de hoje, por exemplo, soubemos por pesquisadores da UFRJ que as principais causas de mortalidade de homens negros são violentas, como homicídios, enquanto os brancos morrem mais por doenças. Ainda hoje também, soubemos que a Fundação SEADE concluiu que brancos ocupam quatro vezes mais cargos executivas que negros.

Setores poderosos detentores dos meios de comunicação de massa no país estão deflagrando uma campanha no sentido de desacreditar essas estatísticas e vilipendiar aqueles, como Vossa Excelência, que pensam na necessidade de políticas públicas de combate a essas desigualdades. Novamente nos acusam de racismo, usando o falso argumento de que o critério de análise dos dados, e não a realidade social, causa divisões perigosas em nossa sociedade. Há décadas os intelectuais negros afirmam que raça nada tem a ver com biologia ou genética, mas que como categoria socialmente construída é uma dura realidade discriminatória baseada em características de aparência e fenótipo.

Senhor Presidente, suas recentes visitas à África somadas a outras iniciativas como a promulgação da lei 10.639/03 e a implantação da política de cotas reparatórias nas universidades têm propiciado um novo clima que permite debater questões sérias que vinham sendo ocultadas ou negadas pelas elites entrincheiradas no mundo acadêmico e no universo da mídia. Ora, diante de um momento tão encorajador, fomentam, com crescente agressividade, essa campanha desestabilizadora da sociedade, em que a desinformação deliberada rivaliza com a malevolência racista, e que objetiva intimidar todo um povo e enganar toda uma nação.

(...) Finalmente, quero dizer que tenho fé nas forças que querem transformar o meu país. Também nutro a convicção maior de que as energias que brotam do coração de Zumbi dos Palmares e de todos os nossos ancestrais ampliarão, cada vez mais, a consciência negra neste país. De negros e de brancos que sonham o sonho bom da liberdade e da justiça.

Por isso as saudações quilombistas: trata-se de uma proposta para a Nação. Zumbi vive em nós, homens e mulheres da resistência anti-racismo e da construção de um Brasil justo e democrático. Axé!

Abdias Nascimento, Professor

Abdias Nascimento. “Quando Abdias Nascimento chegou aos Estados Unidos, em 1968, o país estava em meio a uma grave convulsão sociorracial criada pelo crescimento de várias tendências de um amplo movimento conhecido pelo nome de Black Power – Poder Negro. (...) Na realidade, foi na pessoa de Nascimento, e graças à flexibilidade que o caracteriza tanto na ação política quanto na vida pessoal, que se estabeleceu pela primeira vez uma ponte entre o movimento social negro norte-americano e aquele que surgia, embora balbuciante, na América Latina, principalmente no Brasil” (Carlos Moore, “Abdias Nascimento e o surgimento de um panafricanismo contemporâneo global”. A matriz africana no mundo. Elisa Larkin Nascimento (org.), SP, Selo Negro, 2008, p. 236).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

dadá, a generosa

dadá. foto de arlete soares

“Antes de se transformar na grande chef que é hoje, de reconhecimento internacional, Dadá, Aladcy dos Santos, a Negona, foi menina esperta, risonha e pobre, na Praia do Conde. Em paga por espiar a televisão de gente abastada, ia mexer na panela. Era tão pequena que não alcançava o fogão, tinha que subir num banquinho. Em sua casinha de taipa, onde vivia com a mãe e o irmão, o passadio era fraco (...).

‘Minha mãe tinha medo deu ficar dentro de casa sozinha. À noite, em casa, ela fritava sardinha; de manhã, quando saía pro trabalho levando Renato, ela me botava pra vender as sardinhas na frente de um mercado enorme. Ela fez- ou mandou fazer – não me lembro bem – um tabuleirinho que ela forrava com papel de embrulho, onde botava as sardinhas e o vinagrete de tomate cortado miudinho. Naquele tempo eu não tinha experiência do que era vender. Então o que eu fazia? Eu dava tudo minha filha. Dava tudo’ (Tempero da Dadá, 1998, p. 8).

Mocinha, veio pra Salvador trabalhar em casa particular onde se comia do bom e do melhor. Foi aprendendo, foi transformando, foi adaptando, criando suas próprias receitas” (Paloma Jorge Amado. CNP:Rio de Janeiro, 2007, p.7).


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"A África por ela mesma"

antologia da fotografia africana e do oceano índico
foto da contra-capa: mzelethu mthethwa (áfrica do sul)

"A África por ela mesma: um olhar cortante e desprovido de exotismo eurocêntrico dos fotógrafos do século XIX, cujos registros se prendiam marcados por uma certa cientificidade antropológica ao inventoriar usos e costumes, procurando captar a diferença ao sabor das divisões geográficas arbitrárias com o que o colonialismo partiu o continente africano. É na minuciosa desconstrução desse exotismo que redescobrimos a África, vista agora com o olhar de quem olha para si mesmo" (Emanoel Araújo, diretor do museu Afro-Brasil).

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