culturas negras no mundo atlântico



sound system em salvador; luta de arena em dakar; performances no harlem, ny; carnaval em londres; cafés literários na martinica; emancipation celebration em trinidad; salões de beleza afro em paris; artes visuais em luanda; festival de vodum em uidá. a terceira diáspora é o deslocamento virtual de signos - discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, ícones - provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra. potencializado pela globalização eletrônica e pela web, coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas. uma primeira diáspora acontece com os deslocamentos do tráfico de africanos; uma segunda diáspora se dá pela via dos deslocamentos voluntários, com a migração e o vai-e-vem em massa de povos negros. diásporas_estéticas em movimento.
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antropóloga, viajante e fotógrafa amadora, registro cenas do cotidiano em cidades negras das américas do norte e do sul, caribe, europa, áfrica e brasil, sobre as quais pesquiso, escrevo e realizo mostras audiovisuais. meu porto principal é salvador da bahia onde moro. Goli edits the blog www.terceiradiaspora.blogspot.com from Bahia Salvador, is a traveller and amateur photographer who recorded scenes of daily life in the atlantic cities about which she writes and directs audiovisual shows. She has a post-doctorate in urban anthropology and is the author of the book "The Plot of the Drums - african-pop music from Salvador" and "Third Diaspora - black cultures in the atlantic world".

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

carnaval


banca de bebida no circuito barra-ondina, salvador 2010
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para jorge amado

“Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na gênese da literatura dos países africanos que falam português. (...)

Neste breve depoimento, eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: por que este absoluto fascínio por Jorge Amado, por que esta adesão imediata e duradoura?É sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto do baiano. (...)

Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Bahia e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida cotidiana.

O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: ‘Para mim, a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e via a minha terra. E quando encontrei Quincas Berro d’Água eu o via na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe’.”

Essa familiaridade existencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passeavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos.(...)” (Mia couto. “...e fazer do nosso sonho uma casa” In: O Estado de São Paulo, 5 abril 2008).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

abdias e as cotas

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2007.

Sua Excelência, nosso querido Presidente Lula,

Saudações quilombistas no Dia Nacional da Consciência Negra.

Tenho recebido das mãos de Vossa Excelência honrarias que muito me orgulham, e que recebo em nome do povo afrodescendente deste País, pois entendo que os méritos a ele pertencem. Por isso não poderia deixar de me manifestar no dia de hoje ao povo negro, a todo o povo brasileiro, e a nossos governantes, na pessoa de Vossa Excelência, pois a felicidade do negro, como disse o poeta, é uma felicidade guerreira.

Ao tempo que muito me alegram e me honram a outorga da Grã Cruz da Ordem do Mérito Cultural, e a minha inclusão na mais alta classe da Ordem do Rio Branco, observo que as desigualdades raciais no Brasil continuam agudas e profundas. Diariamente recebo notícias de pesquisas quantitativas que confirmam este fato. Só no dia de hoje, por exemplo, soubemos por pesquisadores da UFRJ que as principais causas de mortalidade de homens negros são violentas, como homicídios, enquanto os brancos morrem mais por doenças. Ainda hoje também, soubemos que a Fundação SEADE concluiu que brancos ocupam quatro vezes mais cargos executivas que negros.

Setores poderosos detentores dos meios de comunicação de massa no país estão deflagrando uma campanha no sentido de desacreditar essas estatísticas e vilipendiar aqueles, como Vossa Excelência, que pensam na necessidade de políticas públicas de combate a essas desigualdades. Novamente nos acusam de racismo, usando o falso argumento de que o critério de análise dos dados, e não a realidade social, causa divisões perigosas em nossa sociedade. Há décadas os intelectuais negros afirmam que raça nada tem a ver com biologia ou genética, mas que como categoria socialmente construída é uma dura realidade discriminatória baseada em características de aparência e fenótipo.

Senhor Presidente, suas recentes visitas à África somadas a outras iniciativas como a promulgação da lei 10.639/03 e a implantação da política de cotas reparatórias nas universidades têm propiciado um novo clima que permite debater questões sérias que vinham sendo ocultadas ou negadas pelas elites entrincheiradas no mundo acadêmico e no universo da mídia. Ora, diante de um momento tão encorajador, fomentam, com crescente agressividade, essa campanha desestabilizadora da sociedade, em que a desinformação deliberada rivaliza com a malevolência racista, e que objetiva intimidar todo um povo e enganar toda uma nação.

(...) Finalmente, quero dizer que tenho fé nas forças que querem transformar o meu país. Também nutro a convicção maior de que as energias que brotam do coração de Zumbi dos Palmares e de todos os nossos ancestrais ampliarão, cada vez mais, a consciência negra neste país. De negros e de brancos que sonham o sonho bom da liberdade e da justiça.

Por isso as saudações quilombistas: trata-se de uma proposta para a Nação. Zumbi vive em nós, homens e mulheres da resistência anti-racismo e da construção de um Brasil justo e democrático. Axé!

Abdias Nascimento, Professor

Abdias Nascimento. “Quando Abdias Nascimento chegou aos Estados Unidos, em 1968, o país estava em meio a uma grave convulsão sociorracial criada pelo crescimento de várias tendências de um amplo movimento conhecido pelo nome de Black Power – Poder Negro. (...) Na realidade, foi na pessoa de Nascimento, e graças à flexibilidade que o caracteriza tanto na ação política quanto na vida pessoal, que se estabeleceu pela primeira vez uma ponte entre o movimento social negro norte-americano e aquele que surgia, embora balbuciante, na América Latina, principalmente no Brasil” (Carlos Moore, “Abdias Nascimento e o surgimento de um panafricanismo contemporâneo global”. A matriz africana no mundo. Elisa Larkin Nascimento (org.), SP, Selo Negro, 2008, p. 236).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

dadá, a generosa

dadá. foto de arlete soares

“Antes de se transformar na grande chef que é hoje, de reconhecimento internacional, Dadá, Aladcy dos Santos, a Negona, foi menina esperta, risonha e pobre, na Praia do Conde. Em paga por espiar a televisão de gente abastada, ia mexer na panela. Era tão pequena que não alcançava o fogão, tinha que subir num banquinho. Em sua casinha de taipa, onde vivia com a mãe e o irmão, o passadio era fraco (...).

‘Minha mãe tinha medo deu ficar dentro de casa sozinha. À noite, em casa, ela fritava sardinha; de manhã, quando saía pro trabalho levando Renato, ela me botava pra vender as sardinhas na frente de um mercado enorme. Ela fez- ou mandou fazer – não me lembro bem – um tabuleirinho que ela forrava com papel de embrulho, onde botava as sardinhas e o vinagrete de tomate cortado miudinho. Naquele tempo eu não tinha experiência do que era vender. Então o que eu fazia? Eu dava tudo minha filha. Dava tudo’ (Tempero da Dadá, 1998, p. 8).

Mocinha, veio pra Salvador trabalhar em casa particular onde se comia do bom e do melhor. Foi aprendendo, foi transformando, foi adaptando, criando suas próprias receitas” (Paloma Jorge Amado. CNP:Rio de Janeiro, 2007, p.7).


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