culturas negras no mundo atlântico



sound system em salvador; luta de arena em dakar; performances no harlem, ny; carnaval em londres; cafés literários na martinica; emancipation celebration em trinidad; salões de beleza afro em paris; artes visuais em luanda; festival de vodum em uidá. a terceira diáspora é o deslocamento virtual de signos - discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, ícones - provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra. potencializado pela globalização eletrônica e pela web, coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas. uma primeira diáspora acontece com os deslocamentos do tráfico de africanos; uma segunda diáspora se dá pela via dos deslocamentos voluntários, com a migração e o vai-e-vem em massa de povos negros. diásporas_estéticas em movimento.
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antropóloga, viajante e fotógrafa amadora, registro cenas do cotidiano em cidades negras das américas do norte e do sul, caribe, europa, áfrica e brasil, sobre as quais pesquiso, escrevo e realizo mostras audiovisuais. meu porto principal é salvador da bahia onde moro. Goli edits the blog www.terceiradiaspora.blogspot.com from Bahia Salvador, is a traveller and amateur photographer who recorded scenes of daily life in the atlantic cities about which she writes and directs audiovisual shows. She has a post-doctorate in urban anthropology and is the author of the book "The Plot of the Drums - african-pop music from Salvador" and "Third Diaspora - black cultures in the atlantic world".

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

entre mundos

“Minhas primeiras lembranças são de um lugar chamado ‘Mbrom’, um pequeno povoado de Loumassi, capital de Achanti, quando esse reino deixou de ser parte da colônia britânica da Costa do Ouro e se transformou numa região da República de Gana. Nossa casa ficava em frente à de meus avós – onde moravam dúzias de parentes e dependentes de vovó, sob a direção de minha avó por afinidade ‘Tia Jane’, que fazia pão para centenas de pessoas de Mbrom e das áreas vizinhas – e a poucos metros, na mesma rua, das casas de muitos primos cujos graus de parentesco eram variáveis e geralmente obscuros. Perto do centro da segunda maior cidade de Gana, atrás de nossa cerca de hibiscos na ‘cidade-jardim da África Ocidental’, nossa vida era essencialmente a de um vilarejo, passada entre poucas centenas de vizinhos; daquela aldeia, íamos aos outros pequenos povoados que formavam a cidade. (...) Mas, de tempos em tempos, também íamos à terra natal de minha mãe, a Inglaterra, para temporadas com minha avó no West Country rural, retribuindo as visitas que ela nos fazia. (...) Se minhas irmãs e eu éramos ‘filhos de dois mundos’, ninguém se dava ao trabalho de nos dizer isso. (...) Quando cresci um pouco mais e fui para um colégio interno inglês, fiquei sabendo que nem todos tinham um tio libanês e primos americanos, franceses, quenianos e thais. E hoje, depois que minhas irmãs casaram com um norueguês, um nigeriano e um ganês, agora que vivo nos Estados Unidos, estou acostumado a ver o mundo como uma rede de pontos de parentesco” (Anthony Appiah, A casa de meu pai,1997, pp. 9-11).

cidade velha


escultura de tatti moreno, salvador, 2012

“Visto da rua o prédio não parecia tão grande. Ninguém daria nada por ele. É verdade que se viam as filas de janelas até o quarto andar. Talvez fosse a tinta desbotada que tirasse a impressão de enormidade. Parecia um velho sobrado como os outros, apertado na Ladeira do Pelourinho, colonial, ostentando azulejos raros. Porém era imenso. Quatro andares, um sótão, um cortiço nos fundos, a venda do Fernández na frente, e atrás do cortiço uma padaria árabe clandestina. 116 quartos, mais de 600 pessoas. Um mundo. Um mundo fétido, sem higiene e sem moral, com ratos, palavrões e gente. Operários, soldados, árabes de fala arrevesada, mascates, ladrões, prostitutas, costureiras, carregadores, gente de todas as cores, de todos os lugares, com todos os trajes, enchiam o sobrado. Bebiam cachaça na venda do Fernández e cuspiam na escada, onde, por vezes, mijavam. Os únicos inquilinos gratuitos eram os ratos. Uma preta velha vendia acarajé e munguzá na porta. Do quarto andar desciam as vezes sons de violão e árabes trocavam língua no silencio dos quartos sem eletricidade. Mulheres do terceiro andar discutiam com mulheres do segundo e ouviam-se palavras cabeludas. De manhã, os homens saíam quase todos. O vozerio das mulheres aumentava. Lavavam roupa. Ruídos de máquinas de costura. A tosse de uma tuberculosa no sótão. Os homens voltavam à tarde, cansados. A escada os devorava um a um”(Jorge Amado, Suor, 1934). 
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