A imagem de Neguinho do Samba regendo a bateria do Olodum no Pelourinho para a performance de Michael Jackson, em They don´t care about us, foi uma das cenas mais acessadas do planeta no ano de 2009. Triste coincidência; estrondosa revelação da importância do mestre baiano para a música mundial.
Neguinho do Samba assinou o arranjo que fez dançar o corpo mágico do rei do pop, morto em junho. Mas esta não foi sua maior façanha. Desde os anos 1980, a música da Bahia está ligada ao seu nome, ao seu ouvido, aos seus gestos.
O maestro é a imagem grandiloqüente de um momento maior da história da música baiana-brasileira: a invenção do samba-reggae - um estilo percussivo que se caracteriza pela recriação de sonoridades afro-americanas e se tornou a marca dos blocos afro.
Neguinho do Samba é a espinha dorsal desta forma de produzir som que renovou a musicalidade baiana. Isso incluiu tanto a modificação de instrumentos percussivos quanto a forma de tocá-los. Certamente nem é possível mensurar todos os feitos do Mestre, mas a presença das mulheres no mundo da percussão é uma das suas conquistas mais vigorosas.
Quem desce e sobe a Rua João de Deus no Pelourinho, já está acostumado a ouvir o samba-reggae que soa no sobrado 19. A velha casa abriga a sede da Escola de Música Didá,– que, pedindo licença à tradição, constituiu e consolidou um espaço feminino no mundo da percussão.
Feito por mulheres ou por homens, o samba-reggae enviou sinais para os quatro cantos do mundo. Estamos de luto e o “atlântico negro” ergue-se menos musical no porto de Salvador da Bahia.
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