culturas negras no mundo atlântico



sound system em salvador; luta de arena em dakar; performances no harlem, ny; carnaval em londres; cafés literários na martinica; emancipation celebration em trinidad; salões de beleza afro em paris; artes visuais em luanda; festival de vodum em uidá. a terceira diáspora é o deslocamento virtual de signos - discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, ícones - provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra. potencializado pela globalização eletrônica e pela web, coloca em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas. uma primeira diáspora acontece com os deslocamentos do tráfico de africanos; uma segunda diáspora se dá pela via dos deslocamentos voluntários, com a migração e o vai-e-vem em massa de povos negros. diásporas_estéticas em movimento.
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antropóloga, viajante e fotógrafa amadora, registro cenas do cotidiano em cidades negras das américas do norte e do sul, caribe, europa, áfrica e brasil, sobre as quais pesquiso, escrevo e realizo mostras audiovisuais. meu porto principal é salvador da bahia onde moro. Goli edits the blog www.terceiradiaspora.blogspot.com from Bahia Salvador, is a traveller and amateur photographer who recorded scenes of daily life in the atlantic cities about which she writes and directs audiovisual shows. She has a post-doctorate in urban anthropology and is the author of the book "The Plot of the Drums - african-pop music from Salvador" and "Third Diaspora - black cultures in the atlantic world".

terça-feira, 1 de maio de 2012

maré alta

 
 
 

alagados, salvador, 2010

“Eu assisti cinema pela primeira vez no Cine Teatro Alagados. Quando Alagados foi aterrado se fez um elefante branco, a Igreja Nossa Senhora dos Alagados, uma santa com um pé na lama, um pé no chão e uma lata d´agua na cabeça; o papa veio inaugurar. Na época me chamou mais atenção o helicóptero do que o papa, aquele negócio voando e eu tava lá da ponte dos Alagados na minha casa onde eu nasci e me criei . Além da igreja se criou o cinema, só que o cinema tinha o tal do ar condicionado central que parece uma coisa boba, mas nos anos 80 era muito. Fazia fila, no sol de novembro, um calor, e as pessoas com roupas glaciais, porque elas iam ao ar condicionado central, entravam e descobriam o cinema. Eu mesmo ia com uma bota gaúcha que meu tio tinha trazido. Fazia parte. Incrivelmente, Ilha do rato foi lançado, assistido pela primeira vez em público dentro desse cinema, nas ruínas dele, sem telhado e completamente destruído. Eu fiz questão porque toda comunidade que fez o filme morava ali.  Engraçado é que a gente vai assistir a um filme americano e tem aquelas piadas, o americano dá uma tortada na cara é uma coisa maravilhosa, uma mulher peituda é uma coisa maravilhosa e a gente não quer peito, a  gente não quer torta, a gente quer cosias mais engraçadas, mas a gente aprendeu a rir porque os outros estão rindo. E no filme eu falo uma coisa engraçada: o menino diz pro outro –  ‘ah! o pai dele é um bebum, fica lá no bar do Zezinho’... (que fica ao lado do Cine Teatro Alagados) e a comunidade inteira, mais de 200 pessoas no cinema, morrem de rir porque aquele filme universal, que foi lançado em Nova York, tem a referência só pra eles, eu embuti aquilo ali porque eu queria esse efeito. Aquela piada do bar do Zezinho só funciona nos Alagados. Está ali, ao lado do Cine Teatro onde eu assisti cinema pela primeira vez. Essa foi minha homenagem à comunidade, Bernard (Attal) nem sabia, mas tava lá”[Joselito Crispim].

Joselito Crispim. “Eu tive essa sorte de ter nascido nos Alagados; não ter ido à faculdade bem jovem, porque eu teria mesclado todo meu conhecimento ancestral. Eu nasci num terreiro de candomblé, aprendi na cultura oral, aprendi das formas de sambar, de falar, e agora que vou fazer quarenta anos comecei a faculdade de direito. Então esse conhecimento exacerbado da cultura ocidental me chega agora que eu tô bem crescidinho, pra não ler não sei quem e deixar de entender meus sábios africanos. Então dentro do que eu tento produzir como educador, como pessoa, está essa coisa de trazer o conhecimento da periferia, esse saber tão diverso, tão rico como qualquer outro, mas que durante muito tempo foi colocado à parte” [Joselito Crispim]. 

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