"Para Ntozake Shange, o Brasil não se resume nem a uma atração turística, nem a um ponto da diáspora africana. Mais que exotismo, beleza, história ou romance, o Brasil está no espírito da música que inspira seu trabalho, que toma posse do seu corpo e lhe dá movimento e ritmo. Na obra de Shange, cabeça e corpo se unem: a política e a dança são parte do mesmo todo, sem hierarquia ou discriminação. Ela própria insiste que "é preciso que se entenda que, quando faço teatro, o Haiti está em minha cabeça, mas é o Brasil que está nos meus quadris". Se o Haiti lhe dá inspiração e garra por seus grandes heróis e a memória da resistência revolucionária, o Brasil move seu corpo e seu espetáculo, emprestando força e beleza à luta na diáspora. De maneira geral, o interesse manifestado por pesquisadores e escritores negros dos Estados Unidos pelas coisas do Brasil faz parte da tentativa de reconstruir o passado e afirmar a identidade negra. Ao cruzar a fronteira e narrar sua viagem, Ntozake Shange resignifica sua história pessoal, racial, nacional, e nossa própria história, se traduz e nos traduz em seu teatro amplamente americano".
(Stelamaris Coser, Cruzando fronteiras: o Brasil nos versos de Ntozake Shange, 2004).
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